No Evangelho de São Mateus temos a
conhecida passagem onde Jesus juntamente com seus apóstolos vai até
Nazaré, a pequena aldeia onde o Senhor viveu a maior parte de sua
vida oculta (conf. Mt 13, 53-58).
Conta-nos o evangelista Mateus que Nosso Senhor
Jesus Cristo não realizou muitos milagres naquela sua passagem por
Nazaré; e isso aconteceu por causa da incredulidade dos nazaretanos,
que não conseguiam admitir que aquele pobre carpinteiro, filho de
José e Maria, cujos primos e primas ainda viviam naquela localidade
e eram gente simples e pobre como eram a maioria dos habitantes da
pequena Nazaré.
Embora Jesus tenha obtido sucesso em sua
missão entre os habitantes da Galiléia, que o seguiam aos milhares;
em Nazaré o Senhor se deparou com a dureza do coração das pessoas
que lhe foram mais próximas por quase trinta anos de sua vida,
inclusive de seus familiares. Os nazaretanos, assim como o Povo de
Israel de uma maneira geral, esperavam a vinda de um Messias
poderoso, que viria libertá-los do jugo do Império Romano. Eles
esperavam um Messias revolucionário que se imporia pela força das
armas contra os inimigos de Israel.
Mas Jesus era justamente o contrário daquilo que
o povo esperava do Messias: era um pobre e humilde carpinteiro que
era seguido por uma multidão de pobres, doentes e marginalizados.
Nem mesmo os inúmeros milagres,
exorcismos e curas realizados por Jesus por toda a Galiléia em favor
do povo sofredor fez os habitantes de Nazaré mudarem de opinião a
Seu respeito. E assim como os nazaretanos, muitas outras pessoas não
acreditavam que Jesus fosse o Messias anunciado pelos profetas e tão
aguardado pelo povo. Fora da Galiléia, segundo o que nos narram os
evangelistas, Jesus teve pouquíssimos seguidores. Na Judéia,
especialmente em Jerusalém, poucos se aventuraram a seguir Jesus e
até o desprezavam dizendo que o Messias esperado jamais poderia ser
um galileu. Entre os sacerdotes do Templo e os escribas e doutores
da lei a incredulidade foi ainda maior, a ponto de quererem
eliminá-Lo, o que acabou por culminar com a Sua Dolorosa Paixão e
Morte na Cruz.
Iluminando a nossa realidade com essa passagem
evangélica, podemos constatar que nossas comunidades paroquiais e
diocesanas não são muito diferentes da pequena aldeia de Nazaré e da
Jerusalém dos tempos de Jesus.
Quando tristemente constatamos os
escassos resultados de nossas ações pastorais e evangelizadoras,
onde o povo parece estar a cada dia mais distante da Igreja, sendo
que muitos já a abandonaram para seguirem outras denominações
cristãs e mesmo outros caminhos espirituais, seja eles de índole
espírita ou pagã, não deveríamos nos perguntar o porquê desse
fracasso pastoral?
Poderíamos facilmente cair na tentação de colocar
a culpa no mundo, que mudou para pior nas últimas décadas por
influências ideológicas que aceleraram o processo de
descristianização de nossa sociedade ocidental, e que por isso o
povo tem se afastado cada dia mais de Deus e da Igreja. Isso em
parte é verdade, e eu já tive a oportunidade de denunciar esse mal
em diversas ocasiões nessa coluna de evangelização. Mas será que é
honesto culparmos somente o mundo e assim tirarmos a
responsabilidade de nossas costas?
Se o mundo mudou para pior, e de fato
mudou, não seria em grande parte por causa da omissão e do mau
testemunho dos cristãos, especialmente de nós católicos?
As duras críticas que o cristianismo recebeu nos
últimos séculos por parte de muitos pensadores e ideólogos que se
voltaram ferozmente contra a Igreja e os cristãos, foram em grande
parte devido às más ações de muitos cristãos, que estavam mais
preocupados em ganhar individualmente o Céu sem se importarem com o
próximo do que serem testemunhas fiéis da infinita misericórdia do
Pai Eterno manifestada na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O falso testemunho de muitos de nossos
irmãos na fé tem feito a nossa sociedade contemporânea se paganizar
e se secularizar cada dia mais, a ponto de já podermos dizer que não
existe mais espaço para Deus em nossa sociedade.
Essa amarga e perversa realidade já foi
denunciada em diversas ocasiões pelo Magistério da Igreja,
especialmente pelos nossos últimos Papas, como São João Paulo II;
Bento XVI; e mais recentemente o Papa Francisco, que denunciou
duramente a perda das raízes cristãs de nossa sociedade.
Agora voltando para a realidade de nossas
Paróquias e Dioceses. Quando nos deparamos com a triste realidade em
que se encontram muitas de nossas comunidades eclesiais, onde parece
que existe um forte bloqueio à ação do Espírito de Deus, que se
constata pelo visível fracasso de nossas ações pastorais e
evangelizadoras, que sempre deixam a desejar, apesar das inúmeras
iniciativas que se multiplicam a cada dia. Não estaria se repetindo
entre nós o triste fato ocorrido na Nazaré dos tempos de Jesus?
Parece que a fé esfriou em muitos corações e o
Espírito Santo de Deus, que só habita em corações puros, não
encontra mais espaço para agir em nosso meio. É claro que existem
iniciativas que produzem muitas conversões sinceras ao Senhor, mas
elas ainda são ações de pequenos grupos, como as novas comunidades,
que são verdadeiros oásis no deserto espiritual em que nos
encontramos.
Para encerrar essa breve reflexão, quero
apenas contar uma breve parábola que ilustra muito bem o fracasso
pastoral de nossas comunidades: “Algumas senhoras de uma
determinada Paróquia reclamavam que todo o trabalho pastoral que
elas faziam havia anos em um bairro carente da cidade, estava em
vias de se perder por completo. Muitas famílias que elas visitavam
semanalmente estavam se tornando evangélicas; e essas aflitas
senhoras não sabiam mais o que fazer. Uma delas se queixou com um
jovem seminarista que a conhecia muito bem e esse jovem lhe deu uma
resposta desconcertante que não lhe agradou nem um pouco; pois
enquanto o pastor daquela pequena congregação protestante, situada
naquele bairro carente, se doava completamente à oração e à escuta
da Palavra de Deus, aquelas acomodadas senhoras passavam a maior
parte de seu tempo assistindo novelas indecentes, fazendo fofocas ou
questionando a autoridade do Magistério da Igreja em muitos de seus
posicionamentos.
E pior, aquelas senhoras em sua vidinha burguesa
medíocre não se preparavam espiritualmente antes de realizarem suas
visitas pastorais, nem mesmo com algum momento de adoração ao
Santíssimo Sacramento ou a oração do Santo Terço, não deixando
nenhum espaço em suas vidas para o Espírito Santo agir por
intermédio delas. Resultado: veio um pobre pastor mais preparado
espiritualmente do que elas e anunciou para aquelas pobres famílias
do bairro a Palavra de Deus com unção e destemor, e aquelas pobres
pessoas, sedentas em ouvir a Palavra de Deus, sentiram-se em seu
abandono por parte da sociedade, amadas e queridas por Deus.”
Reflitamos seriamente sobre isso e façamos um
sério exame de consciência perante Deus.
Que Nossa Senhora, nossa amantíssima Mãe
do Céu, a Estrela da Nova Evangelização, interceda por nós e por
nossas comunidades. Amém!!!
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