Há algumas semanas atrás tratei brevemente sobre a unicidade, a santidade, a catolicidade e a apostolicidade da Igreja de Cristo, que subsiste plenamente apenas na Igreja Católica. Continuando agora esse ciclo de catequese sobre a Igreja, quero falar um pouco sobre nossa pertença à Igreja.
Segundo o “Catecismo da Igreja Católica” (nn. 836–838), todos os homens são chamados a viverem na unidade católica do Povo de Deus, que prefigura e promove a paz universal entre todos os povos e nações. Assim, pertencem à Igreja Católica de modo pleno apenas os fíéis católicos; e pertencem apenas de modo parcial, estando ordenados à ela de diversos modos, todos os demais crentes em Cristo, pertencentes às demais Igrejas e Comunidades Eclesiais não católicas.
Isso pode parecer estranho para muitos, e até mesmo um tanto quanto ofensivo para alguns irmãos protestantes, que gostam de falar mal da Igreja Católica, mas todos os que são verdadeiramente batizados e que não são católicos, pertencem de alguma forma à Igreja Católica; pois o Batismo que receberam nas suas Igrejas ou Congregações Protestantes já os orientam para a Igreja Católica.
Esses membros do Povo de Deus que não são católicos são membros do Corpo Místico de Cristo que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica, mas estão ligados a ela pelo Batismo que receberam.
É claro que existem algumas denominações que se dizem cristãs, mas não possuem um Batismo válido por diversos motivos; e esses grupos religiosos, entre os quais podemos citar os Mórmons, as Testemunhas de Jeová e os Espíritas Kardecistas, não podem ser considerados cristãos, pois seguem doutrinas estranhas ao cristianismo, negando a Encarnação do Filho de Deus e o Mistério da Santíssima Trindade. Em relação a esses grupos de “falsos cristãos”, não podemos afirmar num primeiro momento que eles pertençam ao Povo de Deus, não podendo ser tratados da mesma maneira com que tratamos os que verdadeiramente pertencem a Cristo pelo Batismo, quer sejam católicos ou não.
Mas a pertença à Igreja Católica não pode ficar restrita apenas aos batizados. O “Catecismo” afirma categoricamente que pertencem à Igreja de Cristo todos os homens chamados à Salvação pela graça de Deus. Para muitos essa afirmação também pode parecer estranha, e para alguns grupos fundamentalistas trata-se de uma heresia; mas é Doutrina Católica, que todo fiel católico deve crer. E dessa afirmação do “Catecismo” pode surgir espontaneamente uma pergunta: “Mas como que alguém que não é batizado pode pertencer à Igreja de Cristo?” Além dos adultos convertidos à fé cristã que se preparam para o Batismo (catecúmenos), temos ainda outra categoria de não batizados que pertencem à Igreja.
Uma pessoa pagã, por exemplo, que nunca ouviu falar sobre Jesus Cristo e sobre a Igreja, e por isso não tem culpa de não ser cristã. A Igreja ensina se quando essa mesma pessoa busca viver uma vida de retidão moral, de honestidade, de bondade e de respeito ao próximo, seguindo os ditames de sua reta consciência, ela recebe o “Batismo de desejo” que a conduzirá à Salvação Eterna; pois esse “Batismo de desejo” a torna participante, mesmo sem saber, da Igreja de Cristo. Esse, sem dúvida, é um meio extraordinário de pertença à Igreja, e não vale obviamente para qualquer caso.
Outra pessoa também pagã, por exemplo, que conhecendo verdadeiramente a Cristo e à Igreja, e se nega a receber o Sacramento do Batismo e a viver como um bom cristão, obediente aos ensinamentos da Santa Mãe Igreja, estará trilhando um caminho de Condenação Eterna; pois mesmo conhecendo a Verdade se negou a se submeter a ela. Essa segunda pessoa, diferentemente da primeira, tem culpa de não ser cristão.
Sim, uma coisa é alguém que não é cristão sem culpa por ignorar a Verdade; e outra bem diferente é não ser cristão sabendo da necessidade de pertencer à Igreja para se salvar. São realidades bem diferentes, e devemos ter bem claro essa idéia para não cometermos nenhuma injustiça ou desrespeito contra alguém que não se declara cristão.
Mas daí pode surgir outra pergunta: “Se uma pessoa que não é cristã pode pertencer à Igreja e ser salva da Condenação Eterna, qual é então o sentido da evangelização?”
Essa é uma pergunta que muita gente se faz, mesmo que não tenha lido esse artigo ou que desconheça a Doutrina da Igreja a esse respeito. É que no mundo moderno contemporâneo é comum as pessoas, movidas por uma ideologia igualitarista dominante, acharem que todo mundo de alguma forma se salva, e que não é necessário, portanto evangelizar aqueles que não são cristãos.
Esse modo de pensar a Salvação é uma grave heresia, muito difundida entre nós católicos, e que tem levado muita gente de dentro da própria Igreja a querer transformá-la em uma ONG de assistência social. Nosso querido Papa Francisco já denunciou em diversas ocasiões esse modo errado e perigoso de pensar a Igreja, pois a evangelização é uma necessidade e um direito de todos.
Somente Jesus Cristo pode saciar a fome e a sede de Deus presente no coração de cada homem e de cada mulher. Sem conhecer a Jesus Cristo e o Seu Evangelho, a vida humana não encontra sentido e se torna um grande vazio existencial. Negar o anúncio do Evangelho a alguém, alegando que essa mesma pessoa não necessita de ouvir a pregação da Palavra de Deus, é um grave pecado que clama aos Céus.
Nosso querido Papa Emérito Bento XVI afirmou em várias ocasiões que a evangelização é o maior ato de caridade que podemos realizar ao próximo; pois não há nada de mais precioso nesse mundo do que a Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Mesmo aquelas pessoas que receberam o “Batismo de desejo” de modo implícito, isto é, sem conhecerem a Jesus Cristo e à Sua Igreja, também necessitam de ouvir a mensagem do Evangelho. Pois os corações dessas pessoas desejam ardentemente se encontrarem com o Senhor. Essas pessoas aguardam ansiosamente pelo anúncio da Palavra de Deus, embora não tenham consciência disso, para assim receberem o dom precioso da fé, e ao recebê-lo pedirem o Batismo sacramental à Igreja.
Não podemos brincar com as coisas de Deus e nos dispensar da missão evangelizadora, que é de todo batizado. Não, não podemos jamais virar as costas para ninguém e negligenciar o anúncio do Evangelho a quem se aproxime de nós; pois como nos ensinam os Padres da Igreja: “Fora da Igreja não há Salvação”. Esse antigo axioma nos ensina que a Igreja peregrina é necessária para a nossa Salvação; pois é somente através da Igreja que Cristo, único mediador entre Deus e os homens, se torna presente a nós.
Sem Cristo não há Salvação e sem a Igreja não há Cristo que vem a nós. Lembremos-nos sempre dessa verdade de fé quando nos depararmos com aqueles que estão à beira do caminho nos estendendo a mão pedindo nossa ajuda. Todo aquele que não conhece Cristo é o próximo a quem devo servir anunciando o Evangelho.
Que Nossa Senhora, Mãe da Igreja e Estrela da Nova Evangelização, interceda por nós em nossa caminhada de discípulos-missionários, para que anunciemos sempre o Evangelho com palavras e com o nosso testemunho de vida, levando a todos a alegria de pertencer à Igreja. Amém!!!
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