“Os escribas vindos de Jerusalém
diziam que ele estava possuído por Beelzebu e expulsava os demônios
pelo poder do chefe dos demônios” (Mc 3, 22). Nessa passagem do
Evangelho de São Marcos vemos Jesus sendo acusado por um grupo de
escribas de estar possuído por um demônio, de onde provinha seu
poder de expulsar demônios (conf. Mc 3, 20-30). Jesus lhes responde
em forma de parábolas: “Como pode Satanás expulsar Satanás?”
(v. 23). Com essa resposta, Nosso Senhor Jesus Cristo ensina a esses
escribas hipócritas que é pelo poder de Deus que Ele, o Filho
Unigênito de Deus, age ao expulsar demônios, censurando severamente
os seus acusadores.
Podemos concluir dessa e de outras passagens
narradas nos Evangelhos, onde Jesus liberta muitas pessoas possessas
de demônios, que a possessão demoníaca é uma verdade. E sendo uma
verdade, é uma realidade que oprime o homem; e por isso Jesus
realiza tanto exorcismos para libertar as pessoas da opressão
demoníaca.
Porém, infelizmente muitos exegetas
modernos, oriundos principalmente da Teologia da Libertação, além de
outras correntes teológicas, interpretam as possessões demoníacas
narradas na Sagrada Escritura como se fossem apenas doenças mentais,
como é o caso da epilepsia, por exemplo, cujos sintomas se
assemelham, em muitos casos, com um autêntico caso de possessão.
Para justificar suas posições céticas em relação
à possessão demoníaca, esses exegetas modernos alegam que no tempo
de Jesus e dos apóstolos a medicina ainda era precária e não
conhecia essas doenças psíquicas que alteram o comportamento das
pessoas; e esses comportamentos estranhos eram atribuídos a
demônios. Assim, segundo esses exegetas, Jesus ao supostamente
“expulsar” um demônio, estava na verdade curando aquela pessoa de
algum distúrbio mental.
Temos que admitir que em parte, e somente
em parte, esses exegetas podem ter razão, pois realmente na época de
Jesus, e em épocas posteriores, muitas doenças mentais eram
consideradas como possessões demoníacas; e Jesus pode realmente ter
curado muitas pessoas com algum tipo de distúrbio mental, e essas
curas realizadas por Jesus podem ter sido interpretadas como casos
de exorcismo por parte de pessoas que testemunharam o fato. E essas
pessoas provavelmente desconheciam aquele tipo de doença. Realmente
há uma grande probabilidade de ter ocorrido esse tipo de confusão
pelo simples fato de que as pessoas daquela época ignoravam as
doenças e distúrbios mentais, hoje comprovados pela medicina.
Mas daí chegar ao absurdo de negar por completo a
possibilidade de haver possessões demoníacas, ou até mesmo chegar ao
extremo do ceticismo e negar a própria existência do Diabo e de seus
demônios, e conseqüentemente negar a existência dos anjos que servem
a Deus no Céu, á algo que devemos lamentar profundamente; além de
ser um grande perigo para a Salvação das almas.
E o pior é que muitos exegetas e teólogos
acabam enveredando por esse caminho de negar a existência dos anjos
e dos demônios, ou na melhor das hipóteses, negarem apenas a
possibilidade de haver legítimas possessões demoníacas. Por trás
desse tipo de pensamento cético está certo cientificismo
que prega que a Ciência pode explicar tudo, e que assim a Ciência
libertará o homem das trevas do “obscurantismo religioso”.
Para o homem moderno contemporâneo, marcado
fortemente por esse materialismo cientificista, que tende apenas a
aceitar como verdadeiro aquilo que se pode ver ou tocar com as mãos,
esse tipo de exegese que nega a possibilidade de haver legítimas
possessões demoníacas, chegando muitas vezes ao extremo de negar até
mesmo alguns milagres de Jesus, quando não todos, acaba sendo aceita
com muita facilidade, pois está mais conforme com o modo
materialista do homem moderno pensar.
Temos que admitir também que esse
ceticismo do homem moderno é reforçado por certos fanáticos
religiosos que acreditam que qualquer tipo de distúrbio ou situação
embaraçosa é fruto de ação demoníaca. Esses fanáticos
fundamentalistas acabam assim fazendo com que as pessoas mais
esclarecidas se escandalizem com suas atitudes desequilibradas e se
afastem definitivamente da Igreja, abandonando até mesmo o
cristianismo ou caindo no descrédito total do ateísmo.
Por outro lado existe também o perigo de cair no
extremo oposto e achar que tudo pode ser explicado pela Ciência e
que não existe possessão ou qualquer tipo de ação demoníaca; o que
também não deixa de ser um tipo de fanatismo perigoso.
Esses dois extremos, que levam ao
fanatismo, devem ser evitados por nós católicos, que temos que
seguir o que a Santa Mãe Igreja Católica e Apostólica nos ensina em
sua Doutrina bimilenar.
O nosso querido Papa Francisco em uma de suas
homilias na Casa Santa Marta, criticou severamente os exegetas
céticos que negam as possessões demoníacas e as interpretam apenas
como doenças psíquicas. Francisco censurou esse tipo de
interpretação bíblica que nega a ação dos demônios. O Papa foi
enfático ao dizer que os demônios existem e muitas vezes tomam posse
da vida das pessoas, e que mesmo quando uma pessoa é libertada da
ação do demônio por meio da oração da Igreja, o demônio pode voltar
e se apoderar dela novamente.
Somente unidos a Cristo podemos nos
livrar da ação demoníaca, podendo ser ela tanto uma possessão, que é
mais raro de acontecer, como uma tentação, que é a ação mais comum
dos demônios, ou até mesmo casos de obsessões, quando os demônios
atormentam as pessoas, podendo as levar até mesmo a loucura ou a
doenças psíquicas, aonde muitas chegam ao extremo do suicídio.
Muitos santos e santas da Igreja sofreram de obsessão demoníaca e a
venceram com a oração e a penitência.
Daí a necessidade de vivermos sempre na
intimidade com o Senhor, O buscando sempre na celebração dos
Sacramentos, especialmente na Eucaristia, como também na meditação
da Palavra de Deus e na vida de oração e penitência.
Aliás, o Papa Francisco também enfatizou
em outras ocasiões que a ação do Diabo está por trás do mundanismo
de nosso tempo. Em sua primeira homilia como Papa, Francisco disse
que quem não confessa a Cristo, confessa o mundanismo do Diabo.
O Diabo e seus demônios são astutos e conseguiram
convencer o homem moderno que eles não existem. E ao negar a
existência das forças do mal, o homem moderno acabou se tornando uma
presa fácil nas garras do Maligno. E como conseqüência da influência
diabólica na vida do homem moderno temos justamente o seu
mundanismo, onde o homem abandonou a Deus e a fé cristã que herdou
de seus pais, desprezando os valores do Evangelho que edificaram
nossa sociedade ocidental.
Assim a cultura da morte cresce a cada
dia em nosso meio e o mal parece triunfar em muitos corações que
abandonaram a Deus. Ao negar a existência do Diabo, o homem
contemporâneo não percebe mais sua ação malévola no mundo que conduz
o homem ao pecado e à Condenação Eterna. Dessa forma a cultura da
morte se dissemina de diversas formas em nosso meio, amparada por
ideologias que negam a transcendência do homem e da realidade que o
circunda.
Como não ver a ação demoníaca na
descriminalização do aborto em muitos países; ou então nos ataques
raivosos que a família tradicional vem sofrendo pelos meios de
comunicação e por leis e legislações perversas, como é o caso do
nosso “Plano Nacional de Direitos Humanos” que está servindo de base
jurídica para os estados e municípios brasileiros incluírem a
perversa ideologia de gênero em suas leis de educação; isso sem
falar na violência crescente que nos assola e nos aterroriza; ou
então na corrupção desenfreada e vergonhosa que priva a população
mais pobre e necessitada de serviços essenciais, como a saúde, por
exemplo; entre tantos outros males que nos cercam.
Para encerrar essa breve reflexão queria
apenas enfatizar novamente que a ação mais comum do Diabo e dos
demônios é a tentação. Se apenas algumas pessoas sofrem de possessão
demoníaca, todos nós somos tentados pelos demônios a cairmos no
pecado; e assim a tentação se torna a pior ação dos demônios, que
pode nos levar inclusive à Condenação Eterna.
Até mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo foi tentado
pelo Diabo; mas o Senhor venceu as tentações. E na medida em que nos
configuramos a Cristo, nos tornando semelhantes a Ele, nós também
vencemos as tentações, pois em Cristo somos mais que vencedores. O
mal jamais triunfará em uma alma que se volta verdadeiramente para
Deus se unindo a Seu Filho Jesus Cristo e se deixando conduzir pelo
Espírito Santo.
Que Nossa Senhora, a Mãe do Perpétuo
Socorro, interceda por nós em nossa batalha espiritual contra
Satanás, o mundo e a carne. Amém!!! |