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Fechados à ação do Espírito Santo
15/08/15

 

No Evangelho de São Mateus temos a conhecida passagem onde Jesus juntamente com seus apóstolos vai até Nazaré, a pequena aldeia onde o Senhor viveu a maior parte de sua vida oculta (conf. Mt 13, 53-58).

Conta-nos o evangelista Mateus que Nosso Senhor Jesus Cristo não realizou muitos milagres naquela sua passagem por Nazaré; e isso aconteceu por causa da incredulidade dos nazaretanos, que não conseguiam admitir que aquele pobre carpinteiro, filho de José e Maria, cujos primos e primas ainda viviam naquela localidade e eram gente simples e pobre como eram a maioria dos habitantes da pequena Nazaré.

Embora Jesus tenha obtido sucesso em sua missão entre os habitantes da Galiléia, que o seguiam aos milhares; em Nazaré o Senhor se deparou com a dureza do coração das pessoas que lhe foram mais próximas por quase trinta anos de sua vida, inclusive de seus familiares. Os nazaretanos, assim como o Povo de Israel de uma maneira geral, esperavam a vinda de um Messias poderoso, que viria libertá-los do jugo do Império Romano. Eles esperavam um Messias revolucionário que se imporia pela força das armas contra os inimigos de Israel.

Mas Jesus era justamente o contrário daquilo que o povo esperava do Messias: era um pobre e humilde carpinteiro que era seguido por uma multidão de pobres, doentes e marginalizados.

Nem mesmo os inúmeros milagres, exorcismos e curas realizados por Jesus por toda a Galiléia em favor do povo sofredor fez os habitantes de Nazaré mudarem de opinião a Seu respeito. E assim como os nazaretanos, muitas outras pessoas não acreditavam que Jesus fosse o Messias anunciado pelos profetas e tão aguardado pelo povo. Fora da Galiléia, segundo o que nos narram os evangelistas, Jesus teve pouquíssimos seguidores. Na Judéia, especialmente em Jerusalém, poucos se aventuraram a seguir Jesus e até o desprezavam dizendo que o Messias esperado jamais poderia ser um galileu. Entre os sacerdotes do Templo e os escribas e doutores da lei a incredulidade foi ainda maior, a ponto de quererem eliminá-Lo, o que acabou por culminar com a Sua Dolorosa Paixão e Morte na Cruz.

Iluminando a nossa realidade com essa passagem evangélica, podemos constatar que nossas comunidades paroquiais e diocesanas não são muito diferentes da pequena aldeia de Nazaré e da Jerusalém dos tempos de Jesus.

Quando tristemente constatamos os escassos resultados de nossas ações pastorais e evangelizadoras, onde o povo parece estar a cada dia mais distante da Igreja, sendo que muitos já a abandonaram para seguirem outras denominações cristãs e mesmo outros caminhos espirituais, seja eles de índole espírita ou pagã, não deveríamos nos perguntar o porquê desse fracasso pastoral?

Poderíamos facilmente cair na tentação de colocar a culpa no mundo, que mudou para pior nas últimas décadas por influências ideológicas que aceleraram o processo de descristianização de nossa sociedade ocidental, e que por isso o povo tem se afastado cada dia mais de Deus e da Igreja. Isso em parte é verdade, e eu já tive a oportunidade de denunciar esse mal em diversas ocasiões nessa coluna de evangelização. Mas será que é honesto culparmos somente o mundo e assim tirarmos a responsabilidade de nossas costas?

Se o mundo mudou para pior, e de fato mudou, não seria em grande parte por causa da omissão e do mau testemunho dos cristãos, especialmente de nós católicos?

As duras críticas que o cristianismo recebeu nos últimos séculos por parte de muitos pensadores e ideólogos que se voltaram ferozmente contra a Igreja e os cristãos, foram em grande parte devido às más ações de muitos cristãos, que estavam mais preocupados em ganhar individualmente o Céu sem se importarem com o próximo do que serem testemunhas fiéis da infinita misericórdia do Pai Eterno manifestada na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O falso testemunho de muitos de nossos irmãos na fé tem feito a nossa sociedade contemporânea se paganizar e se secularizar cada dia mais, a ponto de já podermos dizer que não existe mais espaço para Deus em nossa sociedade.

Essa amarga e perversa realidade já foi denunciada em diversas ocasiões pelo Magistério da Igreja, especialmente pelos nossos últimos Papas, como São João Paulo II; Bento XVI; e mais recentemente o Papa Francisco, que denunciou duramente a perda das raízes cristãs de nossa sociedade.

Agora voltando para a realidade de nossas Paróquias e Dioceses. Quando nos deparamos com a triste realidade em que se encontram muitas de nossas comunidades eclesiais, onde parece que existe um forte bloqueio à ação do Espírito de Deus, que se constata pelo visível fracasso de nossas ações pastorais e evangelizadoras, que sempre deixam a desejar, apesar das inúmeras iniciativas que se multiplicam a cada dia. Não estaria se repetindo entre nós o triste fato ocorrido na Nazaré dos tempos de Jesus?

Parece que a fé esfriou em muitos corações e o Espírito Santo de Deus, que só habita em corações puros, não encontra mais espaço para agir em nosso meio. É claro que existem iniciativas que produzem muitas conversões sinceras ao Senhor, mas elas ainda são ações de pequenos grupos, como as novas comunidades, que são verdadeiros oásis no deserto espiritual em que nos encontramos.

Para encerrar essa breve reflexão, quero apenas contar uma breve parábola que ilustra muito bem o fracasso pastoral de nossas comunidades: “Algumas senhoras de uma determinada Paróquia reclamavam que todo o trabalho pastoral que elas faziam havia anos em um bairro carente da cidade, estava em vias de se perder por completo. Muitas famílias que elas visitavam semanalmente estavam se tornando evangélicas; e essas aflitas senhoras não sabiam mais o que fazer. Uma delas se queixou com um jovem seminarista que a conhecia muito bem e esse jovem lhe deu uma resposta desconcertante que não lhe agradou nem um pouco; pois enquanto o pastor daquela pequena congregação protestante, situada naquele bairro carente, se doava completamente à oração e à escuta da Palavra de Deus, aquelas acomodadas senhoras passavam a maior parte de seu tempo assistindo novelas indecentes, fazendo fofocas ou questionando a autoridade do Magistério da Igreja em muitos de seus posicionamentos.
E pior, aquelas senhoras em sua vidinha burguesa medíocre não se preparavam espiritualmente antes de realizarem suas visitas pastorais, nem mesmo com algum momento de adoração ao Santíssimo Sacramento ou a oração do Santo Terço, não deixando nenhum espaço em suas vidas para o Espírito Santo agir por intermédio delas. Resultado: veio um pobre pastor mais preparado espiritualmente do que elas e anunciou para aquelas pobres famílias do bairro a Palavra de Deus com unção e destemor, e aquelas pobres pessoas, sedentas em ouvir a Palavra de Deus, sentiram-se em seu abandono por parte da sociedade, amadas e queridas por Deus.”

Reflitamos seriamente sobre isso e façamos um sério exame de consciência perante Deus.

Que Nossa Senhora, nossa amantíssima Mãe do Céu, a Estrela da Nova Evangelização, interceda por nós e por nossas comunidades. Amém!!!

 

 

 

Autor: Flavio Cividanes de Quero
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