A verdade sobre a possessão demoníaca
07/07/15

 

“Os escribas vindos de Jerusalém diziam que ele estava possuído por Beelzebu e expulsava os demônios pelo poder do chefe dos demônios” (Mc 3, 22). Nessa passagem do Evangelho de São Marcos vemos Jesus sendo acusado por um grupo de escribas de estar possuído por um demônio, de onde provinha seu poder de expulsar demônios (conf. Mc 3, 20-30). Jesus lhes responde em forma de parábolas: “Como pode Satanás expulsar Satanás?” (v. 23). Com essa resposta, Nosso Senhor Jesus Cristo ensina a esses escribas hipócritas que é pelo poder de Deus que Ele, o Filho Unigênito de Deus, age ao expulsar demônios, censurando severamente os seus acusadores.

Podemos concluir dessa e de outras passagens narradas nos Evangelhos, onde Jesus liberta muitas pessoas possessas de demônios, que a possessão demoníaca é uma verdade. E sendo uma verdade, é uma realidade que oprime o homem; e por isso Jesus realiza tanto exorcismos para libertar as pessoas da opressão demoníaca.

Porém, infelizmente muitos exegetas modernos, oriundos principalmente da Teologia da Libertação, além de outras correntes teológicas, interpretam as possessões demoníacas narradas na Sagrada Escritura como se fossem apenas doenças mentais, como é o caso da epilepsia, por exemplo, cujos sintomas se assemelham, em muitos casos, com um autêntico caso de possessão.

Para justificar suas posições céticas em relação à possessão demoníaca, esses exegetas modernos alegam que no tempo de Jesus e dos apóstolos a medicina ainda era precária e não conhecia essas doenças psíquicas que alteram o comportamento das pessoas; e esses comportamentos estranhos eram atribuídos a demônios. Assim, segundo esses exegetas, Jesus ao supostamente “expulsar” um demônio, estava na verdade curando aquela pessoa de algum distúrbio mental.

Temos que admitir que em parte, e somente em parte, esses exegetas podem ter razão, pois realmente na época de Jesus, e em épocas posteriores, muitas doenças mentais eram consideradas como possessões demoníacas; e Jesus pode realmente ter curado muitas pessoas com algum tipo de distúrbio mental, e essas curas realizadas por Jesus podem ter sido interpretadas como casos de exorcismo por parte de pessoas que testemunharam o fato. E essas pessoas provavelmente desconheciam aquele tipo de doença. Realmente há uma grande probabilidade de ter ocorrido esse tipo de confusão pelo simples fato de que as pessoas daquela época ignoravam as doenças e distúrbios mentais, hoje comprovados pela medicina.

Mas daí chegar ao absurdo de negar por completo a possibilidade de haver possessões demoníacas, ou até mesmo chegar ao extremo do ceticismo e negar a própria existência do Diabo e de seus demônios, e conseqüentemente negar a existência dos anjos que servem a Deus no Céu, á algo que devemos lamentar profundamente; além de ser um grande perigo para a Salvação das almas.

E o pior é que muitos exegetas e teólogos acabam enveredando por esse caminho de negar a existência dos anjos e dos demônios, ou na melhor das hipóteses, negarem apenas a possibilidade de haver legítimas possessões demoníacas. Por trás desse tipo de pensamento cético está certo cientificismo que prega que a Ciência pode explicar tudo, e que assim a Ciência libertará o homem das trevas do “obscurantismo religioso”.

Para o homem moderno contemporâneo, marcado fortemente por esse materialismo cientificista, que tende apenas a aceitar como verdadeiro aquilo que se pode ver ou tocar com as mãos, esse tipo de exegese que nega a possibilidade de haver legítimas possessões demoníacas, chegando muitas vezes ao extremo de negar até mesmo alguns milagres de Jesus, quando não todos, acaba sendo aceita com muita facilidade, pois está mais conforme com o modo materialista do homem moderno pensar.

Temos que admitir também que esse ceticismo do homem moderno é reforçado por certos fanáticos religiosos que acreditam que qualquer tipo de distúrbio ou situação embaraçosa é fruto de ação demoníaca. Esses fanáticos fundamentalistas acabam assim fazendo com que as pessoas mais esclarecidas se escandalizem com suas atitudes desequilibradas e se afastem definitivamente da Igreja, abandonando até mesmo o cristianismo ou caindo no descrédito total do ateísmo.

Por outro lado existe também o perigo de cair no extremo oposto e achar que tudo pode ser explicado pela Ciência e que não existe possessão ou qualquer tipo de ação demoníaca; o que também não deixa de ser um tipo de fanatismo perigoso.

Esses dois extremos, que levam ao fanatismo, devem ser evitados por nós católicos, que temos que seguir o que a Santa Mãe Igreja Católica e Apostólica nos ensina em sua Doutrina bimilenar.

O nosso querido Papa Francisco em uma de suas homilias na Casa Santa Marta, criticou severamente os exegetas céticos que negam as possessões demoníacas e as interpretam apenas como doenças psíquicas.  Francisco censurou esse tipo de interpretação bíblica que nega a ação dos demônios. O Papa foi enfático ao dizer que os demônios existem e muitas vezes tomam posse da vida das pessoas, e que mesmo quando uma pessoa é libertada da ação do demônio por meio da oração da Igreja, o demônio pode voltar e se apoderar dela novamente.

Somente unidos a Cristo podemos nos livrar da ação demoníaca, podendo ser ela tanto uma possessão, que é mais raro de acontecer, como uma tentação, que é a ação mais comum dos demônios, ou até mesmo casos de obsessões, quando os demônios atormentam as pessoas, podendo as levar até mesmo a loucura ou a doenças psíquicas, aonde muitas chegam ao extremo do suicídio. Muitos santos e santas da Igreja sofreram de obsessão demoníaca e a venceram com a oração e a penitência.

Daí a necessidade de vivermos sempre na intimidade com o Senhor, O buscando sempre na celebração dos Sacramentos, especialmente na Eucaristia, como também na meditação da Palavra de Deus e na vida de oração e penitência.

Aliás, o Papa Francisco também enfatizou em outras ocasiões que a ação do Diabo está por trás do mundanismo de nosso tempo. Em sua primeira homilia como Papa, Francisco disse que quem não confessa a Cristo, confessa o mundanismo do Diabo.

O Diabo e seus demônios são astutos e conseguiram convencer o homem moderno que eles não existem. E ao negar a existência das forças do mal, o homem moderno acabou se tornando uma presa fácil nas garras do Maligno. E como conseqüência da influência diabólica na vida do homem moderno temos justamente o seu mundanismo, onde o homem abandonou a Deus e a fé cristã que herdou de seus pais, desprezando os valores do Evangelho que edificaram nossa sociedade ocidental.

Assim a cultura da morte cresce a cada dia em nosso meio e o mal parece triunfar em muitos corações que abandonaram a Deus. Ao negar a existência do Diabo, o homem contemporâneo não percebe mais sua ação malévola no mundo que conduz o homem ao pecado e à Condenação Eterna. Dessa forma a cultura da morte se dissemina de diversas formas em nosso meio, amparada por ideologias que negam a transcendência do homem e da realidade que o circunda.

Como não ver a ação demoníaca na descriminalização do aborto em muitos países; ou então nos ataques raivosos que a família tradicional vem sofrendo pelos meios de comunicação e por leis e legislações perversas, como é o caso do nosso “Plano Nacional de Direitos Humanos” que está servindo de base jurídica para os estados e municípios brasileiros incluírem a perversa ideologia de gênero em suas leis de educação; isso sem falar na violência crescente que nos assola e nos aterroriza; ou então na corrupção desenfreada e vergonhosa que priva a população mais pobre e necessitada de serviços essenciais, como a saúde, por exemplo; entre tantos outros males que nos cercam.

Para encerrar essa breve reflexão queria apenas enfatizar novamente que a ação mais comum do Diabo e dos demônios é a tentação. Se apenas algumas pessoas sofrem de possessão demoníaca, todos nós somos tentados pelos demônios a cairmos no pecado; e assim a tentação se torna a pior ação dos demônios, que pode nos levar inclusive à Condenação Eterna.

Até mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo foi tentado pelo Diabo; mas o Senhor venceu as tentações. E na medida em que nos configuramos a Cristo, nos tornando semelhantes a Ele, nós também vencemos as tentações, pois em Cristo somos mais que vencedores. O mal jamais triunfará em uma alma que se volta verdadeiramente para Deus se unindo a Seu Filho Jesus Cristo e se deixando conduzir pelo Espírito Santo.

Que Nossa Senhora, a Mãe do Perpétuo Socorro, interceda por nós em nossa batalha espiritual contra Satanás, o mundo e a carne. Amém!!!

 

Autor: Flavio Cividanes de Quero
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